domingo, 22 de dezembro de 2019

Pablo Neruda



"Não tem amo, como se fosses rosa de sal
topázio ou flecha de cravos que atiram chamas

Te amo como se amam certas coisas escuras secretamente
entre a sombra e a alma
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores
e graças a teu amor, vive escuro em meu corpo
o delicado aroma que ascendeu da terra

Eu te amo sem saber como, nem quando, nem onde
te amo simplesmente, sem complicações, nem orgulho.

Assim te amo porque não conheço outra maneira
Senão assim deste modo
em que não sou, nem és
tão perto que tua mão em meu peito é a minha
tão perto que se fecham teus olhos com meus sonhos. 

Pablo Neruda

Verso 1

Queria saber
o que sabem os poetas
alquimistas de palavras
dão formas a versos como atletas

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

24 anos



24 anos

Não trate o tempo como inimigo
Mais atenção no quanto que no quando
Nenhum dia amanhece sem motivo
Nenhuma noite está te aguardando

Não procure razão pro choro
Fostes tão pequena e nada tinha
Cabelo curto, grande, preto ou louro
imutavelmente naninha.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Pálido Ponto Azul


Texto de Carl Sagan
Narração de Guilherme Briggs

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Espelharte


Há um grande alvoroço nas portas do gigantesco Teatro do Tempo, o público há dias corria atrás de um ingresso para assistir a grande peça intitulada A Vida, estrelando a grande atriz Humanidade, todos já se punham em seus lugares, à peça seria maravilhosa, o público formado pela mais alta incoerência somente admirava a enorme cortina de fumaça que escondia o esplendoroso cenário de universo, o diretor Deus apressava a figurinista Natureza para que todos estivessem finalmente prontos, a peça começa, a grande estrela é a atriz principal que brilhantemente interpreta as cenas de fome, raiva, intolerância, ambição, hipocrisia e descaso. Já terminada a peça o público permanece inerte, de repente surge quem faltava, sobe ao palco o Diabo, imediatamente a platéia se levanta, formada por cegos, surdos, aleijados que sem as mãos batem palmas gritando “Viva ao autor”.

Rodrigo Diniz

A Primeira História de Amor


Céu 
De imenso Véu tu cobres o Mar
Apaixonado Céu
Quem em sua doçura
Mantém-se fiel em amar ao Mar

Mar de rosto largo, porém raso
Não sabes que não por um acaso
Viveste a olhar pro Céu
Tolo Mar de vistas claras
Não vês que amores são chances raras
Com as quais não pode ser cruel

Ô estúpido Mar, então, por que só enxergas teu reflexo e não vês então o Céu

Céu que de amor adormece profundo
Tu que espalhas o azul no mundo
Divide sua cor com o seu amor
Ó Céu que calado adormece negro
Perdendo sua cor em desespero
Sem derramar uma gota sustenta a Lua

Mar que cheio de si se espalha
Enamorando a praia descobriu que sozinho está
Mar porque procuras só desejo
Querendo da areia um beijo
Que a Terra não há de lhe dar

Céu que amanhecendo se declara
Joga ao Mar sua jóia rara
Presenteado-lhe de forma clara
Dizendo-lhe que o ama

E agora Mar, que decisão tomar
Será que por fim aprendeste a amar
E vai então aceitar o Céu

Vejo que não irá, então tu vais mesmo tentar
Um outro desejo efêmero
Ficará com o ar, que lhe vive a galantear
Passando-lhe com o vento sobre o espelho

Tu não sabes mesmo amar
Escolhendo o ar ainda ficas só
Pois este lhe trará somente pó
E em ti nada irá deixar
Fará de você inquieto, somente lhe revoltará

E tu Céu ainda tão inocente
Mesmo o Mar não querendo o seu presente
Joga-lhe o Sol no entardecer

Mais agora o conseguiste  conquistar
Pois viste o até então tolo Mar
Que amor igual ao teu nenhum igual terá

E agora o Mar lhe permite o Céu então abaixar
Beijando-lhe sua doce fronte
Lindo casal celeste que és
Como Deus lhes condeno a ser fieis
Indo sempre juntos de mãos dadas

E saibam que seus filhos serão
Estrelas de brilho intenso no Céu
E de beleza exótica no Mar e que vocês mesmo que queiram
Jamais irão se separar, pois um do outro serão a fonte
Agora Céu e Mar, lhes dou suas alianças
Abraçados sois então o horizonte.


Rodrigo Diniz