terça-feira, 7 de julho de 2020

La Plage


# TRATAMENTO 3

Nas férias escolares uma das coisas que eu mais gostava era jogar fliperama, tinha um lugar, perto de casa, com vários, e eu ia caminhando até lá, eram uns 30 a 40 minutos de caminhada, e passava a tarde jogando, Cadilac Dinossauro, Mortal Kombat, Capitão Comando.

Mas houve uma dessas tardes em que tudo mudou, algo terrível aconteceu, estava eu em uma partida de Street Fighter, jogando com o Blanka contra o Honda e eu estava indo muito bem, dominando a situação, quando a máquina começou a apelar e a dar aquele golpezinho de mão chato da porra a toda a hora, e eu que estava indo muito bem na partida fiquei na alma, foi nesse momento em que eu armei a virada do contra ataque no choquinho, que uma bomba explode dentro do meu estômago, imediatamente meus olhos se arregalam, um suor frio me desce pela espinha, e minhas nádegas se contraem como uma boca sem dentes chupando limão, eu perco a partida, que aquela altura já não me interessava em nada, e começo a fazer um mapeamento mental, naquela época não existia waze, mas era algo parecido com isso que se passava em minha mente em busca de um banheiro, após um rápido processamento chego a conclusão que o melhor era ir pra casa.

Começo a caminhar, não tinha como ir de ônibus, já tinha gasto o dinheiro da passagem no fliperama, no começo é uma caminhada lenta porém confiante e firme, dez minutos depois eu andava como se não tivesse articulação nos joelhos, eu apertava tanto as nádegas que dava pra quebrar uma noz, nisso já havia anoitecido quando eu paro enfrente ao hotel La Plage, e faço uma conta mental simples, que é distancia que falta, vezes a velocidade possível de segurar a merda, o resultado era óbvio, eu ia chegar em casa todo cagado, e foi ai que um anjo no céu sentiu pena de mim, um anjo barroco provavelmente, o Hotel La Plage  ficava em frente a praia, em uma esquina de rua menos movimentada, essa rua lateral estava com os postes apagados, e toda a lateral do hotel era rodeada por uma cerca viva alta, eu entrei nessa rua, "arrudiei" a cerca e vi aquele trecho de grama fresca, e virginal, com a cerca viva servindo de biombo, ou seja era tudo perfeito demais, e ainda por cima tinha uma mangueira dessas de jardim no chão, olha, só faltava eu cagar em cima de um bilhete de loteria premiado de tão perfeito que era.

Vendo que aquilo não se tratava de outra coisa se não uma mensagem de deus, dizendo pra mim, vai meu filho, se livra desse filhote de urubu que tá bicando a sua cueca, eu nem hesitei, prontamente me agachei no escuro, ansioso por cortar o rabo do macaco, aliás esses nomes pra quando se vai ao banheiro são ótimos, largar um barro, passar um fax pra Boston, esse já tá desatualizado, que ninguém mais manda fax, tem outro que é maravilhoso, colocar a Alcione na hidromassagem, porque o apelido da Alcione é marrom, ó que coisa escrota.

Mas voltando, quando finalmente o meu momento de adubar o solo chegou, com as calças já chegando na altura dos joelhos, uma luz se ascende atrás de mim, e eu vejo que estou enfrente a uma imensa janela de vidro, dessas que só se vê quem está por dentro, percebo que estou de frente a vidraça que dá pro salão de jogos do hotel, eu olho pra trás ao mesmo tempo que me jogo pro lado, que nem um goleiro de seleção, só que sem calças, me arrastando em direção ao escuro, me levanto e saio andando, como se nada tivesse acontecido, e depois de uns 3 minutos, percebo que a vontade de cagar sumiu, simplesmente sumiu, eu fiquei até na dúvida se na verdade eu não tinha cagado tão rapidamente que nem senti a merda ir embora, o fato é que o cocô se desmaterializou dentro de mim, era o que eu achava, pois na verdade ele foi parar em outra dimensão e voltou, por que quando eu cheguei em casa a vontade reapareceu, mais ai já estava tranquilo por que afinal era só esperar o punheteiro do meu irmão terminar de tomar banho, conclusão, depois de tudo isso, me caguei na porta do banheiro.




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