segunda-feira, 13 de julho de 2020

O Fantasma do Natal oceanográfico.

Acordo 06:30 da manhã pra vir trabalhar, meio jururu, cabisbaixo por ter dormido pouco e principalmente por estar trabalhando na véspera de natal, depois de arrumado, desço do meu prédio, e me deparo com a rua completamente deserta parecendo um domingo de copa do mundo, com jogo do Brasil, fico pensando no tanto que teria que andar até o ponto de ônibus que me levaria até a Lagoa Rodrigo de Freitas, uma caminhada de uns 10 minutos de muita má vontade, decido então, pegar um táxi, e ir até a Leopoldina, de onde tomaria um ônibus pra atravessar o Rebouças,  uma corrida até lá daria uns 12 reais no máximo, eu achava que naquele momento valia a pena, pagar 12 reais pra não ter que andar os 10 minutos de má vontade.

 

Estendo um braço paro o primeiro táxi que passa, entro e logo digo o destino:

-Leopoldina.

Comento com o motorista o meu estranhamento sobre o quanto a rua estava deserta, e ele responde:

- Pois é tá tudo livre por aí, parece até dia de copa do mundo.

- Sabe que eu pensei a mesma coisa. Mas é que trabalhar no natal é um porre né, o senhor que também tá trabalhando deve saber bem como é, eu vou até as 19:00 da noite hoje, e amanhã ainda volto pra trabalhar.

- Hoje é dia de fazer 18 horas aqui, e amanhã vai ser a mesma coisa, 18 horas de trabalho.

- Caramba, eu reclamando da vida, eu vou fazer 11 horas de trabalho e já estou injuriado, imagino o senhor que vai fazer 18, hoje e amanhã.

- Pois é, mas também tem o seguinte, dia 3 de janeiro eu não quero nem saber, vou pegar um avião e vou lá pro Rio São Francisco, vou passar em.

 

 Aqui ele começou a falar o nome de um monte de cidades a beira do rio que eu não me recordo o nome, disse que iria pescar, mergulhar, enfim, uma enorme férias de 15 dias, e concluiu dizendo.

 

- Sabe como é, oceanógrafo não consegue ficar muito tempo longe da água.

 

Nesse ponto eu me espantei, nunca tinha conversado com um oceanógrafo na minha vida, e ainda mais que era taxista, já estava me aproximando da Leopoldina, e o ar condicionado e a minha curiosidade, juntamente com o fato de eu ter o dinheiro no bolso pra pagar a corrida, me fizeram mudar de ideia.

 

- Moço toca pro Jardim Botânico, que agora a gente vai até lá pro senhor me contar essa história. Como o senhor se chama mesmo ?

- Dimitri.

- Nome russo, bacana.

- Ровно в вашем распоряжении. Respondendo em russo

- Caraca que legal o senhor fala russo ?

- Sim falo, aprendi a maior parte num curso que fiz lá de mergulho, enquanto trabalhava em estaleiros, e depois estudei um pouco aqui.

- Caramba o senhor já foi pra Russia?

- Sim, fui pra Malásia, Indonésia, Inglaterra, até pra Antártida eu já fui, eu trabalhei como mergulhador, depois como oceanógrafo na Petrobrás, na área de pesquisa, eu me formei em 1972, na primeira turma de oceanografia do Brasil.

- Caramba e poxa e esse negócio não dá dinheiro não ? Por que pô, o senhor vai trabalhar 18 horas na véspera de Natal ?

- Olha dá dinheiro sim, mas é que eu tive uns problemas na vida.

- Que tipo de problema ?

- Casei 3 vezes.

- Ha. (risos) quando não é bebida, droga ou jogo é mulher, sempre um desses.

- Pois é, me casei 3 vezes, pago pensão pra duas.

- Ficou viúvo de uma.

- Não casei com ela de novo.

- (risos) Você casou com a sua ex-mulher?

- Sim com a primeira, com quem tive 3 filhos, trigêmeos, univitelinos, iguaizinhos.

- Caraca (risos) pelo menos economizo nessa pensão.

- Pois é, elas hoje tão tudo lá em casa.

- Hen, como assim? As três estão na tua casa hoje?

- Sim vão passar o natal lá, as três.

- (rindo muito) caraca, a tua mulher, que é sua primeira ex-mulher, vai passar o natal com as suas duas ex-esposas?

- Isso e na viagem pro São Francisco, ainda vão eu, a minha atual, e a minha segunda, agora ex, e meu filho., de vez em quando, eu brinco com a minha mulher, dizendo que eu vou dar uma de mórmon, (risos) ela fica puta.

 

Cheguei na Emissora, infelizmente por que o papo tava ótimo, e felizmente por que tava pagando literalmente por ele, risos.  Me despedi o Dimitri, que me saudou em russo na despedida, e entrei pra trabalhar já com outro ânimo.

 

Esse foi o meu encontro com o fantasma do Natal oceanográfico.

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