O Jeovane Nunes postou um trecho do show desse artista e eu fiquei encantado com a sonoridade, bastante tempo depois, pesquisei e descobri essa jóia chamada, Memphis Slim.
sábado, 26 de dezembro de 2020
domingo, 20 de setembro de 2020
Entre tantos e tudo.
Nenhuma boa atitude passará impune
De todas as coisas que não existem
Nada supera o amor.
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Entre nós
Havia tanto silêncio entre nós
Que não havia mais espaço
Espaço de nada
Havia entre nós, tanto espaço
Que não havia mais nada
Só silêncio
Havia tanto espaço e silêncio
Que não havia mais nós
Em nada.
Rodrigo Diniz
sábado, 12 de setembro de 2020
Úvula
domingo, 6 de setembro de 2020
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Dúvida sobre o autor.
De todas as injustiças da existência, nenhuma é maior do que não saber quando vamos morrer, talvez seja proposital, para que assim possamos enxergar, cada dia como uma oportunidade única, porém, não é assim que vivemos, muito pelo contrário, fazemos planos como se os amanhãs fossem quase que infinitos, quando na verdade, não temos nem o controle, e nem a certeza do próximo minuto, do próximo segundo, do próximo expirar.
Que significado pode ter uma existência frágil, tão perene, tão curta, que sonhos podem ser construídos em terreno tão insólito, que lógica trágica essa que nos torna um mero banquete a ele, o verme conquistador, o sonho que não contagia, a palavra que não foi dita, a declaração de amor que não foi exposta, tudo é banquete, o arrependimento, a culpa, a mágoa, tudo banquete, só as pegadas ficam junto a dezenas de espaços vazios, na mesa, na cama, no sofá, no armário, o vazio vai tomando conta de tudo.
Muito tempo depois descobri essa música, Naquela mesa, e hoje acho que ela conversa com esse texto. (01/07/2021)
segunda-feira, 13 de julho de 2020
O Fantasma do Natal oceanográfico.
Acordo 06:30 da manhã pra vir trabalhar, meio jururu, cabisbaixo por ter dormido pouco e principalmente por estar trabalhando na véspera de natal, depois de arrumado, desço do meu prédio, e me deparo com a rua completamente deserta parecendo um domingo de copa do mundo, com jogo do Brasil, fico pensando no tanto que teria que andar até o ponto de ônibus que me levaria até a Lagoa Rodrigo de Freitas, uma caminhada de uns 10 minutos de muita má vontade, decido então, pegar um táxi, e ir até a Leopoldina, de onde tomaria um ônibus pra atravessar o Rebouças, uma corrida até lá daria uns 12 reais no máximo, eu achava que naquele momento valia a pena, pagar 12 reais pra não ter que andar os 10 minutos de má vontade.
Estendo um braço paro o primeiro táxi que passa, entro e logo digo o destino:
-Leopoldina.
Comento com o motorista o meu estranhamento sobre o quanto a rua estava deserta, e ele responde:
- Pois é tá tudo livre por aí, parece até dia de copa do mundo.
- Sabe que eu pensei a mesma coisa. Mas é que trabalhar no natal é um porre né, o senhor que também tá trabalhando deve saber bem como é, eu vou até as 19:00 da noite hoje, e amanhã ainda volto pra trabalhar.
- Hoje é dia de fazer 18 horas aqui, e amanhã vai ser a mesma coisa, 18 horas de trabalho.
- Caramba, eu reclamando da vida, eu vou fazer 11 horas de trabalho e já estou injuriado, imagino o senhor que vai fazer 18, hoje e amanhã.
- Pois é, mas também tem o seguinte, dia 3 de janeiro eu não quero nem saber, vou pegar um avião e vou lá pro Rio São Francisco, vou passar em.
Aqui ele começou a falar o nome de um monte de cidades a beira do rio que eu não me recordo o nome, disse que iria pescar, mergulhar, enfim, uma enorme férias de 15 dias, e concluiu dizendo.
- Sabe como é, oceanógrafo não consegue ficar muito tempo longe da água.
Nesse ponto eu me espantei, nunca tinha conversado com um oceanógrafo na minha vida, e ainda mais que era taxista, já estava me aproximando da Leopoldina, e o ar condicionado e a minha curiosidade, juntamente com o fato de eu ter o dinheiro no bolso pra pagar a corrida, me fizeram mudar de ideia.
- Moço toca pro Jardim Botânico, que agora a gente vai até lá pro senhor me contar essa história. Como o senhor se chama mesmo ?
- Dimitri.
- Nome russo, bacana.
- Ровно в вашем распоряжении. Respondendo em russo
- Caraca que legal o senhor fala russo ?
- Sim falo, aprendi a maior parte num curso que fiz lá de mergulho, enquanto trabalhava em estaleiros, e depois estudei um pouco aqui.
- Caramba o senhor já foi pra Russia?
- Sim, fui pra Malásia, Indonésia, Inglaterra, até pra Antártida eu já fui, eu trabalhei como mergulhador, depois como oceanógrafo na Petrobrás, na área de pesquisa, eu me formei em 1972, na primeira turma de oceanografia do Brasil.
- Caramba e poxa e esse negócio não dá dinheiro não ? Por que pô, o senhor vai trabalhar 18 horas na véspera de Natal ?
- Olha dá dinheiro sim, mas é que eu tive uns problemas na vida.
- Que tipo de problema ?
- Casei 3 vezes.
- Ha. (risos) quando não é bebida, droga ou jogo é mulher, sempre um desses.
- Pois é, me casei 3 vezes, pago pensão pra duas.
- Ficou viúvo de uma.
- Não casei com ela de novo.
- (risos) Você casou com a sua ex-mulher?
- Sim com a primeira, com quem tive 3 filhos, trigêmeos, univitelinos, iguaizinhos.
- Caraca (risos) pelo menos economizo nessa pensão.
- Pois é, elas hoje tão tudo lá em casa.
- Hen, como assim? As três estão na tua casa hoje?
- Sim vão passar o natal lá, as três.
- (rindo muito) caraca, a tua mulher, que é sua primeira ex-mulher, vai passar o natal com as suas duas ex-esposas?
- Isso e na viagem pro São Francisco, ainda vão eu, a minha atual, e a minha segunda, agora ex, e meu filho., de vez em quando, eu brinco com a minha mulher, dizendo que eu vou dar uma de mórmon, (risos) ela fica puta.
Cheguei na Emissora, infelizmente por que o papo tava ótimo, e felizmente por que tava pagando literalmente por ele, risos. Me despedi o Dimitri, que me saudou em russo na despedida, e entrei pra trabalhar já com outro ânimo.
Esse foi o meu encontro com o fantasma do Natal oceanográfico.
domingo, 12 de julho de 2020
Ovo e o amor - Clarice Lispector
sexta-feira, 10 de julho de 2020
Existirmos ao que será que se destina?
terça-feira, 7 de julho de 2020
La Plage
domingo, 5 de julho de 2020
Discurso Final - O Grande Ditador
O Grande Ditador.
“Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, os gentios… negros… brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem… um apelo à fraternidade universal… à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora… milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas… vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia… da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… que vos desprezam… que vos escravizam… que arregimentam as vossas vidas… que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar… os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela… de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo… um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!.”
Charles Chaplin |
sexta-feira, 3 de julho de 2020
Mar Adentro - Poema de Ramon Sanpedro
sábado, 13 de junho de 2020
O resto é preguiça e covardia - Clóvis de Barros Filho
Fundamentação da Metafísica dos Costumes Immanuel Kant Tradução de Antônio Pinto de Carvalho, Companhia Editorial Nacional Prefácio |
A ANTIGA filosofia grega repartia-se em três ciências: a Física, a Ética e a Lógica.. Esta divisão está inteiramente de acordo com a natureza das coisas, nem temos que introduzir-lhe qualquer espécie de aperfeiçoamento, a não ser acrescentar o princípio em que ela se baseia, para que desse modo possamos por um lado, possuir a certeza de ela ser completa e, por outra lado, determinar com exatidão as subdivisões necessária. Todo conhecimento racional é ou material e refere-se a qualquer objeto, ou formal e ocupa-se exclusivamente com a forma do entendimento e da razão, um e outro em si mesmo considerados, e com as regras universais do pensamento em geral, sem distinção de objetos. A filosofia formal denomina-se LÓGICA, mas a filosofia material, que trata de objetos determinados e das leis a que eles estão sujeitos, divide-se, por sua vez, em duas, visto estas leis serem ou leis da natureza ou leis da liberdade. A ciência das primeiras chama-se FÍSICA; a das segundas, ÉTICA. Aquela dá -se também o nome de Filosofia da natureza ou Filosofia natural; a esta, o de Filosofia dos costumes.A filosofia formal denomina-se LÓGICA, mas a filosofia material, que trata de objetos determinados e das leis a que eles estão sujeitos, divide-se, por sua vez, em duas, visto estas leis serem ou leis da natureza ou leis da liberdade. A ciência das primeiras chama-se FÍSICA; a das segundas, ÉTICA. A Lógica não pode comportar parte empírica, ou seja, parte na qual as leis universais e. necessárias do pensamento estribem em princípios tomados da experiência; de contrário, não seria lógica, isto é, cânone do entendimento e da razão, válido para todo pensamento e capaz de ser demonstrado. Ao invés, tanto a Filosofia natural como a Filosofia moral podem, cada uma, possuir uma parte empírica, pois devem aplicar suas leis, aquela à natureza como o objeto da experiência, e esta à vontade humana enquanto afetada pela natureza: leis, no primeiro, caso, em conformidade com as quais tudo acontece; leis, no segundo caso, de acordo com as quais tudo deve (388) acontecer, tomando todavia em consideração as condições, mercê das quais muitas vezes não acontece o que deveria acontecer. Pode-se denominar empírica toda filosofia que se apóia em princípios da experiência; e pura, a que deriva suas doutrinas exclusivamente de princípios a priori. Esta, quando simplesmente formal, chama-se Lógica; mas, se for circunscrita a determinados objetos do entendimento, recebe o nome de Metafísica. Deste modo, surge a idéia de uma dupla metafísica: uma Metafísica da natureza e uma Metafísica dos costumes. A Física terá pois, além de sua parte empírica, uma parte racional . Outro tanto sucede com a Ética; embora, aqui, a parte empírica possa denominar-se particularmente Antropologia prática, e a parte racional receber o nome de Moral. Todas as indústrias, mesteres e artes lucraram com a divisão do trabalho. Devido a ela, não é um só que faz todas as coisas, mas cada qual se circunscreve àquela tarefa peculiar que, por seu modo de execução, se distingue sensivelmente das demais, a fim de poder cumpri-la com o máximo de perfeição e de facilidade possível. Onde os trabalhos não são assim divididos e discriminados, e cada artista tem de realizar tudo por si, as indústrias permanecem numa fase de grande barbárie. Ora seria, por certo, questão digna de ser examinada, perguntar se a filosofia pura não exige em todas as suas partes uni especialista que se lhe dedique exclusivamente, e se, para o conjunto desta indústria que é a ciência, não seria preferível que os que estão habituados a apresentar, conforme ao gosto do público, o empírico imiscuído com o racional, combinado em toda a sorte de proporções que eles próprios desconhecem, que a si próprios se qualificam de autênticos pensadores ao mesmo tempo que apodam de visionários os que se ocupam da parte puramente racional, se não seria preferível, digo, que esses tais fossem advertidos a que não se incumbissem simultaneamente de duas tarefas que devem ser desempenhadas de maneira inteiramente diferente, cada uma das quais reclama sem dúvida talento particular, e cuja reunião numa só pessoa conduz fatalmente a produzir obra imperfeita. Limito-me, entanto, aqui, a perguntar se a natureza da ciência não exige que se separe sempre com sumo cuidado a parte empírica da parte racional, que se faça preceder a Física propriamente dita (empírica) de uma Metafísica da natureza, e a Antropologia prática de uma Metafísica dos costumes, as quais Metafísicas deveriam ser cuidadosamente expurgadas de todo elemento (389) empírico, com o intuito de saber tudo o que a razão pura pode fazer em ambos os casos e em que mananciais ela haure esta sua doutrinação a priori, quer semelhante tarefa seja empreendida por todos os moralistas (que não têm conto), quer somente por alguns que para tal se sintam especialmente chamados. Como aqui não tenho em vista senão propriamente a filosofia moral, limito a estes termos a questão proposta: não seria de suma necessidade elaborar, de vez, uma Filosofia moral. pura completamente expurgada de tudo quanto é empírico e pertence à Antropologia? Que tal filosofia deva existir resulta manifestamente da idéia comum do dever e das leis morais. Deve-se concordar que uma lei, para possuir valor moral, isto é, para fundamentar uma obrigação, precisa de implicar em si uma absoluta necessidade; requer, além disso, que o mandamento: "Não deves mentir" não seja válido somente para os homens, deixando a outros seres racionais a faculdade de não lhe ligarem importância. O mesmo se diga das restantes morais propriamente ditas. Por conseguinte, o princípio da obrigação não deve ser aqui buscado na natureza do homem, nem nas circunstâncias em que ele se encontra situado no mundo, mas a priori. só nos conceitos da razão pura; e qualquer outra prescrição, que estribe nos princípios da simples experiência, mesmo que sob certos aspectos fosse prescrição universal, por pouco que se apóie em razões empíricas, nem que seja por um motivo apenas, pode ser denominada regra prática, nunca porém lei moral. Pelo que, em todo conhecimento prático não só as leis morais, juntamente com seus princípios, se distinguem essencialmente de tudo o que contém algum elemento empírico, como também toda filosofia moral se apóia inteiramente em sua parte pura, e, aplicada ao homem, não deduz coisa alguma do conhecimento do que este é (Antropologia), senão que lhe confere, na medida em que ele é ser racional, leis a priori. Sem dúvida tais leis exigem uma dificuldade de julgar aguçada pela experiência capaz de, em parte, discernir em que casos elas são aplicáveis e, em parte, procurar-lhes acesso à vontade humana e influência para a prática; porque o homem, sujeito como se encontra a tantas inclinações, possui decerto capacidade para conceber a idéia de uma razão pura prática, mas não pode assim com facilidade Tornar essa idéia eficaz in concreto em seu procedimentoUma Metafísica dos costumes é pois rigorosamente necessária, não só por motivo de necessidade da especulação, a fim de indagar a origem dos princípios práticos que existem a priori em nossa razão, mas também porque a própria moralidade está sujeita a toda a espécie de perversões, enquanto carecer deste fio condutor e desta norma suprema de sua exata apreciação. Com efeito, para que uma ação seja moralmente boa, não basta que seja conforme com a lei moral; é preciso, além disso, que seja praticada por causa da mesma lei moral; de contrário, aquela conformidade e apenas muito acidental e muito incerta, visto como o princípio estranho à moral produzirá, sem dúvida, de quando em quando, ações conformes com a lei, mas muitas vezes também ações que lhe são contrárias - Ora, a lei moral em sua pureza e genuinidade (e justamente é isto o que mais importa na prática) não deve ser buscada senão numa Filosofia pura; donde, a necessidade de esta (a Metafísica) vir em primeiro lugar, pois sem ela não pode haver filosofia moral. Nem a filosofia, que confunde princípios puros com princípios práticos merece o nome de filosofia (pois esta distingue-se do conhecimento racional comum, precisamente por expor numa ciência à parte o que este conhecimento comum apreende apenas de modo confuso); merece menos ainda o nome de filosofia moral, porque justamente devido a tal confusão prejudica a pureza da moralidade e vai de encontro a seu próprio fim. Não se pense todavia que o que se requer aqui se encontre já na propedêutica que o ilustre WOLFF antepõe à sua filosofia moral, a saber na obra a que deu o título de Filosofia prática universal, e que, por conseguinte, não há campo inteiramente novo que explorar. Precisamente porque essa propedêutica devia ser uma filosofia prática universal, considerou ela, não uma vontade de qualquer espécie particular, como seria, por exemplo, uma vontade determinada, não por motivos empíricos, mas só por princípios a priori, e que pudesse ser denominada vontade pura, mas o querer em geral, com todas as ações e condições que lhe convém dentro deste significado geral; distingue-se pois da Metafísica dos costumes, do mesmo modo que a Lógica geral se distingue da Filosofia transcendental: a Lógica geral expõe as operações e regras do pensamento em geral, ao passo que a Filosofia transcendental expõe unicamente as operações e regras particulares do pensamento puro, ou seja, do pensamento, por meio do qual os objetos são conhecidos inteiramente a priori. É que a Metafísica dos costumes deve indagar a idéia e os princípios de uma vontade pura possível, e não as ações e condições do humano querer em geral, as quais, em sua maioria, são tomadas da Psicologia. O fato de na Filosofia prática geral se falar igualmente (391) (embora sem razão) de leis morais e de dever não constitui objeção contra o que afirmo. Com efeito, os autores dessa ciência permanecem fiéis, neste ponto, à idéia que dela formam; não distinguem, entre os princípios de determinação, aqueles que, como tais, são representados absolutamente a priori pela só razão e são propriamente morais, daqueles que são empíricos, e que o entendimento erige em conceitos gerais por um simples confronto das experiências; consideram-nos, ao invés, sem atentarem na diferença de suas origens, apenas segundo seu número maior ou menor (pois os encaram como sendo todos da mesma espécie) e formam assim seu conceito de obrigação. Na verdade, este conceito é tudo menos moral; mas é o único que se pode esperar de uma filosofia que, sobre a origem de todos os conceitos práticos possíveis, não decide de maneira nenhuma se se produzem a priori ou só a posteriori. Ora, propondo-me publicar, um dia, uma Metafísica dos costumes, faço-a preceder deste opúsculo que lhe serve de fundamentação. De certo não há, um rigor, outro fundamento em que da possa assentar, de não seja a Crítica de uma razão pura prática, do mesmo modo que, para para fundamentar a Metafísica, se requer a Crítica da razão pura especulativa por mim já publicada. Mas, em parte, a primeira destas Críticas não é de tão extrema necessidade como a segunda, porque em matéria moral a razão humana, mesmo entre o. Texto completo http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_kant_metafisica_costumes.pdf |
Antônio Cícero Guardado pra sempre
GUARDAR
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
quarta-feira, 10 de junho de 2020
Dois Patinhos na Lagoa
Cântico Negro - José Régio
Samambaia
terça-feira, 9 de junho de 2020
O Salto de Migliaccio
Mario Quintana
dá hesitação às folhas anseios ao vento.
Não Passarão - Miguel Torga
Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!
Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.
Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!
Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!
Miguel Torga
Bertold Brecht
Aprenda o mais simples!
Para aqueles
Cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro:é uma arma.
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada ítem
Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando
Bertold Brecht